Em comunicações anteriores já referi a Sociedade de Iniciativas Trinhaense, que em 1932 iniciou um longo percurso de realizações para a satisfação de necessidades básicas da população, que viria a ter um período áureo nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado, já com a designação de Comissão Progressiva da Povoação de Trinhão.
Também salientei o papel do Grupo Recreativo de Trinhão, que durante 33 anos mobilizou os jovens Trinhaenses e que também funcionou como autentica escola de formação, donde saíram a maioria dos actuais dirigentes associativos da nossa aldeia.
Vou agora propor-vos uma reflexão sobre uma nova fase que começou em 1999, com as comemorações dos 50 anos da Ronda do Trinhão, uma tradição de décadas do domingo da Festa Anual em que tocadores, cantadores e outros foliões percorrem a aldeia, de casa em casa, a saudar as famílias e a incentivar o convívio saudável entre todos os Trinhaenses.
Convém recordar que nesse ano a Festa Anual esteve para não se realizar, depois de no ano anterior terem sido as mulheres do Trinhão a evitar que isso acontecesse. Dois meses antes da data aprazada a desmobilização era geral, até que um grupo de Trinhaenses lançou mãos à obra e realizou uma das jornadas culturais mais marcantes das últimas décadas, deixando em todas as casas um pratinho comemorativo do evento.
Esta iniciativa criou as condições necessárias à formação de uma nova Direcção, que elegeu como objectivo principal a construção do Centro Social de Cultura e Recreio do Trinhão. Apesar das inúmeras contrariedades, a equipa liderada pelo presidente Manuel Antunes irá finalmente inaugurar no próximo mês de Agosto de 2010 esta obra, que era um sonho da colectividade desde os anos 60, que muitos já consideram fora de contexto, mas que, na minha opinião, poderá ser uma infra-estrutura essencial para o relançamento do Associativismo Trinhaense – assim os Trinhaenses queiram.
Voltando um pouco atrás, situamo-nos no ano 2001 para reviver o Colóquio que realizámos em Torres Novas (onde se reuniram Trinhaenses residentes no Trinhão e em Lisboa) para o seguinte debate: “Trinhão – Que Futuro?!…”. Depois de várias intervenções sobre o passado do Trinhão e do seu movimento associativo, surgiram ideias para o relançamento de novas iniciativas capazes de mobilizar os Trinhaenses de todas idades e aproveitar a atracção que as gentes da cidade começavam a ter pelo ambiente rural, como potencial de desenvolvimento futuro.
Como medida imediata para unir os Trinhaenses, foi apontada a fusão entre a Comissão Progressiva da Povoação de Trinhão e o Grupo Recreativo de Trinhão. Assim, depois de o GRT ter decidido cessar a sua actividade em Junho de 2001, Em Fevereiro de 2002 (um ano depois do Colóquio) viria a ser criada a Secção Desportiva de Cultural da CPPT, integrando desde logo um número significativo de jovens.
No final desse ano teve inicio o processo de alteração dos estatutos, que foram integralmente remodelados. Em Novembro de 2003 a colectividade passou então a designar-se ATDS – Associação Trinhaense de Desenvolvimento e Solidariedade, afirmando-se como “associação regionalista, não lucrativa dos associados, tendo por fins o desenvolvimento económico, ambiental e patrimonial da povoação de Trinhão e seus anexos, bem como a promoção cultural, social e de solidariedade dos habitantes, naturais e associados, através das mais diversas actividades”.
O Regulamento Geral Interno da Associação apontava para um modelo descentralizado, assente nas seguintes Secções:
- a) Secção Desportiva e Cultural, para dar continuidade à actividade do Grupo Recreativo de Trinhão e mobilizar os jovens Trinhaenses;
- b) Secção Recreativa, com funções similares às da antiga Comissão de Festas da aldeia, para a realização da Festa Anual e outros eventos;
- c) Lagar, para gerir o Lagar Associativo do Trinhão, que já tem mais de 50 anos de existência, associando pessoas de diversas aldeias.
O Cemitério da aldeia, que ainda é gerido pela colectividade, e o Bar Associativo, que é o único local onde os Trinhaenses ainda podem conviver ao longo do ano, completava este sistema organizativo.
Decorridos 7 anos sobre estas transformações, a ATDS está novamente numa encruzilhada decisiva:
- A dinâmica da actual Direcção, para além da conclusão da nova sede, de outras obras realizadas (designadamente no Lagar, e no Recinto de Festas) e dos eventos que tem promovido (com destaque para o Festival da Cerveja e do Marisco), tem colocado o Trinhão entre as aldeias mais dinâmicas do concelho de Pampilhosa da Serra, mas a população e os associados nem sempre têm correspondido aos apelos dos seus dirigentes;
- A Secção Desportiva e Cultural tem reunido um significativo número de jovens Trinhaenses, que têm realizado diversas actividades (com destaque para o Almoço Convívio do Vale Porco – um lugar idílico sobranceiro à albufeira do Cabril no Rio Zêzere, no último dia da Festa do Trinhão), mas que nem sempre tem tido o apoio que merece dos associados;
- A Secção Recreativa ainda não funcionou no modelo para que foi criada. De facto a Direcção tem desempenhado o papel que caberia esta Secção, o que, na minha opinião, não tem contribuído muito para o desejável envolvimento dos associados na actividade associativa;
- O Lagar Associativo tem captado associados de outras aldeias, o que é positivo, mas os produtores de azeite do Trinhão já não estão tão unidos como noutros tempos. Talvez valha a pena identificar as razões e procurar relançar novas iniciativas para além do azeite;
- O afastamento de muitos associados e a crítica fácil, sem que surjam alternativas credíveis não facilitam a captação de novos dirigentes, para a continuidade da renovação progressiva que qualquer associação necessita;
- O papel do associativismo no desenvolvimento social do concelho e da região não é, infelizmente, considerado com a importância estratégica que poderia ter, na minha opinião meramente pessoal.
É uma pena, se deixarmos desperdiçar um capital histórico de quase 80 anos e um Património invejável, que inclui:
- O Centro Social de Cultura e Recreio, que pode e deve ser dinamizado para o apoio à população residente, mas também a outras iniciativas locais;
- O espaço de 5.000 metros quadrados, que abrange o recinto desportivo, os Balneários inacabados e o Lagar Associativo, com uma vista extraordinária para os Meandros do Zêzere (património da Unesco, que o Município de Pampilhosa da Serra candidatou a maravilha natural de Portugal);
- O recinto da antiga Escola Primária, onde ainda funciona o Bar Associativo, paredes meias com o Centro de Dia construído pela Caritas, mas que deixou de funcionar. Este espaço, com cerca de 1.000 metros quadrados e uma vista semelhante para o Zêzere, poderia ter várias utilizações (turismo, espaço de lazer para a terceira idade, centro de juventude ou de actividades recreativas, etc.);
- O “Núcleo Histórico do Trinhão”, constituído por 4 Casas de Xisto, propriedade da Secção Desportiva e Cultural da ATDS, que apresentou recentemente uma candidatura ao PRODER e que só não foi considerada por não contemplar ainda a concretização da parte de dinamização turístico e cultural que estava subjacente ao projecto;
- O acesso à zona de Pesca do Rio Zêzere, que já é frequentada por inúmeros adeptos da modalidade, mas que não tem as infra-estruturas de apoio adequadas.
A capacidade ou incapacidade da ATDS, dos Trinhaenses e das Entidades responsáveis pela estratégia de desenvolvimento da nossa região (poder central, estruturas regionais, estruturas sectoriais e autarquias locais, entre outras) ditarão, mas uma vez na minha modesta opinião, o futuro do associativismo Trinhaense.
Tenho perfeita consciência que estes meus textos são muito pouco para aquilo que é preciso fazer. Mas, para além disso só posso continuar a incentivar aqueles que se quiserem juntar a mim para, em conjunto, encetarmos algumas diligências nesse sentido.
No entanto, se houver outras visões e iniciativas que demonstrem uma estratégia mais válida para alcançar os mesmos objectos essenciais, não deixarei de as aplaudir e incentivar, na medida em que o que mais importa é fazer qualquer coisa para ultrapassar este impasse.
Autor: Anselmo Lopes